Dia do filho único: atenção exclusiva

Na correria do dia-a-dia e na dificuldade que é dar atenção à um de cada vez, acabo frequentemente tomando conta dos meus filhos como se eles fossem um grupo, um bando. Sempre me preocupo com eles no coletivo e raramente consigo dedicar um tempo para cada um individualmente. Raramente consigo ter com cada um deles o dia do filho único.

Hoje eu tive a oportunidade de passar algumas horas do dia somente com o Murilo. Como contei em meu post anterior, Murilo está há alguns meses apresentando sinais de gagueira. Preocupada com os motivos de isso estar acontecendo e com as dificuldades que a gagueira não tratada pode trazer no futuro, levei Murilo para Porto Alegre essa manhã para consultar com a fonoaudióloga e presidente do Instituto Brasileiro de Fluência (IBF), dra Anelise Junqueira Bohnen.

O que era para ter sido apenas uma consulta com um dos trigêmeos, acabou se tornando um excelente motivo para fortalecermos nossa ligação um com o outro. Acordei o pequenino às 6 horas da manhã, coloquei uma roupinha bonita, dei um copo de iogurte e nos dirigimos à rodoviária, de táxi. Eu havia comprado a passagem há três dias e tinha conseguido as duas poltronas bem da frente. O ônibus era executivo, bastante confortável, e a viagem duraria duas horas. Fui equipada com celular (com a carga de bateria cheia), fones de ouvido (para não importunar os demais viajantes) e comidinhas para ele.

filho único

Murilo e mamãe.

Pensei que o bonitinho fosse dormir durante a viagem, mas ficou bem acordado. Assistiu ao filme dos Minions, que estava passando em uma das televisões do ônibus. Ficou conversando comigo, contando histórias e cantando musiquinhas. E foi aí que eu percebi o quanto eu sei pouco sobre meus filhos! Por mais que pareça que estou sempre atenta a eles, novamente digo que presto atenção sempre ao conjunto. Muito poucas vezes eu consigo identificar particularidades da personalidade deles e, mais uma vez, foi pensando também nisso que os matriculei na escola em turmas separadas.

Filho único: conhecendo meu filho melhor

Murilo me contou que sua música preferida é “Se essa rua fosse minha”. Também gosta muito, no momento, de uma musiquinha que é mais ou menos assim: “Pintinho, pintinho, correu, fugiu. Pisou na lama, escorregou e caiu”. Além disso, contou até 12! Eu pensei que ele sabia contar até 10. Quando chegou no 10, contou até 12 e continuava, mas sempre esquecia do resto. Ensinei durante a viagem a contar até 20. Você pode achar isso bobo, sem importância, mas para nós foi algo incrível!

Ao chegar ao consultório da fono, a consulta transcorreu normalmente. No início ele estava um pouco tímido, depois foi se soltando e ela pôde analisar o jeitinho dele de falar e alguns sons que ele ainda não consegue fazer muito bem. Foi interessante saber que ele tem um leve atraso no desenvolvimento da fala e que isso se deve, além da prematuridade, ao fato de que ele é um de três da mesma faixa etária. Ou seja, a fono acredita – e entende – que o fato de ele ser trigêmeo colabore para que o estímulo individual seja menor da parte dos pais e cuidadores.

Isso quer dizer que a gente, na correria do dia-a-dia, não consegue conversar com eles com calma, abaixando-nos à altura dos olhos deles e fazendo-os prestar atenção no que estamos dizendo. Me lembro que me dediquei muito mais à Mônica quando ela era filha única nesse sentido. Ela, na idade que os meninos estão agora, falava mais corretamente.

Enfim, levei o Murilo para a dra Anelise conhecer pessoalmente e analisar o caso. Agora o tratamento continuará aqui em minha cidade com uma fonoaudióloga que será supervisionada por ela. Já temos algumas orientações de estímulos a trabalhar com o Murilo (que pretendo utilizar quando possível com os outros também, individualmente).

Retornamos a Caxias do Sul no mesmo dia, de carro dessa vez. Ele faltou aula e ficou comigo e com minha irmã (que foi quem nos trouxe de carro). Dormiu na viagem de volta. Buscamos os maninhos e a mana na escola e viemos para casa. O tempo todo fiquei pensando no que posso estar perdendo e/ou deixando passar com relação aos meus outros filhos. Acho que será interessante marcar um horário de filho único com cada um 1 vez por semana, para fazer uma atividade sozinho(a) com a mamãe. Parece que estou devendo isso a eles. E mais uma vez, uma mãe se consome em culpa…

Até mais!

8 comentários

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    Karoline Luiza Teixeira

    Mãe é mãe!Não importa o quanto fazemos,sempre achamos que poderíamos fazer mais!Não se culpe querida,tenho um filho só e as vezes sinto que não lhe dou a atenção necessária!
    Pode ter certeza que és um exemplo!Admiro o seu cuidado,sua rotina e dedicação também ao blog,que sempre está bem atualizado!
    Um grande abraço!

    1. Michele Kaiser

      Obrigada pelo carinho, Karoline! Você tem razão: mãe é mãe e a culpa parece que virou sobrenome! Um beijo!!

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    Ai, Michele! Fiquei com o coração apertado só de ouvir teu relato! Que loucura isso de nem sempre conseguir identificar individualidades no meio do grupo! Eu sou filha única e tenho um filho único. Meu contexto de maternagem é completamente diferente do teu 🙂

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    Anita

    Michele, como está a Cristina
    Faz um post sobre sua sobrinha
    Do quartinho dela
    Como é ser tia
    Como é a relação dos seus filhos com ela

    1. Michele Kaiser

      Obrigada pela sugestão de post!

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    Luana

    Ah Michele, tenho dois e me sinto assim..
    Sinto que peco na educação, na atenção e no amor por eles, sempre acho que posso fazer mais, mas ai o dia passa e eu vejo que não fiz nada disso…
    Parece que só sabemos quem são em dupla/trio/grupo, esquecendo das suas individualidades e particularidades. Teu relato me cortou o coração, pq me senti exatamente dessa forma.

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    Muito emocionada lendo isso, afinal tenho duas por enquanto e ainda consigo manejar, como são bebês aproveito pra dar uma atenção individual quando a outra está dormindo. Mas quando eu tiver mais tenho medo de perder esses momentos.

    1. Michele Kaiser

      Ter mais filhos é viver se sentindo culpada sobre o quanto de atenção que está conseguindo dar. É sempre achar que está devendo um pouco para alguém. Não é fácil. Mas a própria questão “família” já ajuda nisso. Enquanto eu estou com um, os outros estão se cuidando entre si e é lindo de ver o carinho que eles têm um pelo outro. Beijos!

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