Às vezes a gente só quer desabafar

Desabafar. Às vezes a gente só quer desabafar. Mais um dia difícil na hora de buscar as crianças na escola. Já tinha sido um pouco complicado levar o Murilo hoje. Há alguns dias ele anda reclamando que não quer ir para a escola. Acabou contando que estava chateado porque uma menina bateu nele, mas já descobrimos que ele é muito amigo dela e foi um mal-entendido. Ainda assim, o sapeca não queria ir e fez a maior choradeira, tornando tudo mais estressante.

Ao chegar na porta da área onde temos que deixá-los, ele chorou tanto que chamaram a professora para ela levá-lo e acalmá-lo. Deu tudo certo. Mas, por isso, cheguei atrasada no trabalho e ainda passei a tarde inteira preocupada com ele. Minha preocupação foi em vão porque, quando cheguei para buscá-lo, encontrei um menino feliz da vida.

Então, depois de buscar cada um dos quatro filhos em sua sala de aula – como de costume -, tentei levá-los para casa. Mas a vontade de brincar é tanta que nunca consigo passar reto pelos brinquedos. Nossa, que inveja tenho daquelas mães que entram na escola às 17h20 para buscar seus filhos e às 17h25 já estão no carro indo para casa. Eu, além de fazer a peregrinação buscando de sala em sala, ainda gasto o verbo tentando convencer meus quatro pimpolhos a irem para casa. Mas, bem, já relatei tudo semana passada no dia em que a mamãe perdeu a paciência.

Enfim, hoje o dia foi mais calmo, principalmente porque eu fui “de sangue doce”, ou seja, já preocupada psicologicamente para levar um chá de banco lá na escola. Enquanto eu esperava eles resolverem concordar em ir para casa, um pai de uma menina me olhou e disse: “Poxa, virei seu fã. Não dou conta de uma e você aí com três”. Ele nem tinha visto que eu tinha ainda a Mônica, mas nem entrei em detalhe. Aceitei o elogio, acrescentando: “Imagina, nem dou conta, faço o que dá”. Rimos.

Aí, depois de muito tentar mas sem me estressar (afinal, tinha escolhido não me estressar hoje), convenci meus filhos a irem embora prometendo um lanchinho na lancheria da escola. “Que tal um pão de queijo?” Todos ficaram felizes. Chegando lá, um quis bolo, dois quiseram salgadinho e o outro quis pão de queijo (porque a gente tinha combinado, né?). Fiz uma nova combinação com eles para convencê-los a irem para casa e deu certo. Nisso, a moça do caixa me diz: “que bom que eles obedecem e aceitaram a combinação”. E eu, na minha maior calma e tranquilidade, brinquei: “Nossa, como invejo aquelas mães que conseguem vir buscar os filhos e ir embora rapidinho”. Não previ o que veio depois deste simples comentário.

Eu só queria desabafar

A mulher, coitada, quis me dar um sermão. Me disse que eu deveria agradecer por meus filhos terem saúde. Que eu não podia reclamar deles. Que eles eram muito educados e saudáveis. Que a pior coisa do mundo era quando uma criança era doente. Que filho saudável é alegria, não problema. E continuou a falar essas coisas em detalhes que, agora, nem lembro mais. Fiquei muda, só ouvi. Me senti o cocô do cachorro. Sorri para ela e segui meu caminho. Seguida por quatro filhotes saudáveis.

Claro que eu não vivo reclamando. Claro que eu perco a paciência às vezes. Mas é óbvio que eu amo meus filhos e que, apesar de todo o cansaço que às vezes me dão, sou muito agradecida por tê-los. É lógico que eu sinto muito alívio por meus filhos serem saudáveis, por não terem tido intercorrências na UTI neonatal no nascimento. Me sinto muito abençoada pelo simples fato de ainda os ter comigo, principalmente por conhecer as histórias de outras mães de múltiplos que, infelizmente, perderam um de seus filhos.

Mas, naquele momento, eu só estava fazendo um comentário engraçadinho. Só queria desabafar o quanto eu estava exausta dessa rotina de ir buscá-los feliz e frequentemente voltar com mais de 50% dos filhos chorando. Só queria falar um pouquinho sobre isso, sem mágoas e sem ingratidão.

A vida é corrida, a gente cansa. Nossa rotina é pesada, desgastante. Mas quem me acompanha por aqui sabe que eu sempre foco no lado bom. Até quando perco a paciência. Hoje, eu estava calma e tranquila, sem stress. Eu só queria desabafar. Porque reclamar um pouquinho, de brincadeira, faz bem. Externar os sentimentos alivia. Às vezes, a gente só quer desabafar.

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14 comentários

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    Oi Michele. Leio sempre seu blog mas acho que nunca comentei. Hoje não me aguentei e tive que escrever pra dizer: que mulher sem noção essa moça do caixa! É óbvio que sempre terão outras pessoas em situações mais difíceis que as nossas, que estão passando por imensas provações na vida, que lutam contra doenças terríveis. Mas isso não significa que nós não temos direito a reclamar, a ter um dia ruim, a “invejar” outras famílias que achamos que tem a vida mais fácil que a nossa. rs Muitas vezes eu me peguei lendo seu blog e pensando: “nossa, como ela consegue dar conta de 4? Eu já me descabelo e reclamo com 1”. Mas por outro lado moro longe da família, não tenho babá nem nenhuma ajuda em casa, e me dou ao direito de sim reclamar, principalmente naquelas semanas em que dá vontade de ter uns minutinhos a sós, descansar, fugir. rs
    Então não se sinta mal com a fala dessa sem noção, reclame sempre que quiser reclamar, extravase a irritação e a impaciência, vc pode muito bem dar valor e ser feliz com a sua vida mas ninguém é obrigado a estar feliz e otimista 100% do tempo. Esse mundo precisa de mais empatia, principalmente de empatia com as mães que já são tão oprimidas.
    Um beijo,
    Denise

    1. Michele Kaiser

      Obrigada por seu comentário e por seu carinho, Denise! Talvez eu tenha encontrado essa moça em um dia ruim. Talvez ela tenha problemas pessoais maiores que os meus. Muito obrigada por nos acompanhar aqui no blog. um beijo grande!

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    Gloria

    As pessoas são chatas mesmo. Relaxa!

    1. Michele Kaiser

      Hehehehe. Obrigada, Gloria!

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    Evlly Moreira

    kkkkk, é verdade Michele. Não custa nada desabafar um pouquinho né?!

    1. Michele Kaiser

      Às vezes a gente só quer dar uma reclamadinha leve… hehehehe. Beijos!

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    Roberta

    Já passei por uma situação parecida mas não com filhos. Ainda na adolescência, fiz uma piadinha assim sobre conflitos com minha mãe e então veio a resposta dura. Na hora pensei ‘afff’, depois entendi. A moça já havia perdido a mãe e tudo aquilo que eu reclamava ela queria ter e não podia.
    Foi uma lição rs quando alguém me fala algo que pode ser ‘polêmico’, um desabafo, eu só sorrio e todo mundo sai bem. Talvez ela também só queria desabafar com você, Mi.

    1. Michele Kaiser

      Talvez. Mas me fez me sentir mal, sem me conhecer. A melhor ideia é sorrir amarelo mesmo. Foi o que eu fiz. Sorri e me despedi. Um beijo!

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    Michele, não tive tempo de comentar o seu post sobre o dia em que perdeu a paciência. Achei excelente. Me identifiquei tanto! Quando buscamos o nosso trio na escola (eles têm 3 anos), volta e meia sai uma confusão. Ou não querem entrar no carrinho, ou os três querem pegar água no bebedouro mil vezes, uma confusão. Algo simples pode virar um estresse. Não acho que a moça tenha falado por mal, mas esse papo realmente cansa. Sempre haverá pessoas em situações mais difíceis que a nossa, mas isso não nos impede de reclamar, né? Você fez bem de só sorrir e ir embora. É isso aí! Parabéns pelos textos, são ótimos e retratam perfeitamente a vida das mães de múltiplos, com suas alegrias e desafios.

    1. Michele Kaiser

      Oi, Elaine! Bem como diz o título, às vezes a gente só quer desabafar. E externar nossos sentimentos nos traz leveza. Você entende bem o que passo ao final de cada dia, tentando trazer meus pimpolhos para casa. E o pior é que eles dormem no carro e depois não consigo tirá-los de lá. Você também sofre com isso? Hehehehe. Beijos!

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    Tamyris Portolan

    Comecei a acompanhar teu blog por causa do teu relato a respeito do Mirena. Estava tendo os mesmos problemas que tu, e buscando aquela brecha de: não pode ser só comigo que está dando tão errado.
    E no minimo uma vez por semana venho ler tuas postagens pois me identifico cada vez mais. Tenho três filhos, (não são trigêmeos) e a minha do meio é tal e qual a tua Mônica, sempre com uma resposta na ponta da língua! Ontem, passei o dia comentando das coisas que via no teu blog com meu marido e ele me pediu de onde tu era…(eu tinha lido em algum lugar que tu era gaúcha) e acabei descobrindo que moramos na mesma cidade.
    Guria, sucesso no teu blog e quem sabe uma hora, não rola um café para trocarmos experiencias a respeito da loucura do que é ser mãe por aqui. Beijos!

    1. Michele Kaiser

      Olá, Tamyris! Poxa, que coincidência! Quem sabe nossos filhos estudam até na mesma escola! kkkkk… Obrigada por acompanhar o blog e por me transmitir esse carinho! Um beijo, querida!

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    Samantha

    Michele, continuo aqui me deleitando com o seu blog! Mas nossa, gente, que mocinha chata essa da cantina, que falta de senso hein!! kkkkkkkkkkk Afe!! Mas é lóóógico que esses pequenos comentários (que honestamente eu nem vejo como reclamação, não, são “obss” básicas, muitas vezes só pra fazer social, fazer um comentário qualquer, dar aquela risadinha e mostrar que você é gente como a gente kkkk enfim) fazem bem, fazem parte e não são nada demais. O pior é que a maioria das vezes, antes de falar, a gente não tem noção do que vai vir, que foi o que pareceu que aconteceu com você. Fez um desabafo mega inocente e a mulher como, armada, parecia só estar esperando kkkk Enfim, né, deixa pra lá kkkkk Alguém tem q deixar pra lá, né, deveria ter sido ela, deixando pra lá o seu comentário, mas infelizmente acabou tendo que ser vc, a mãe de 4, guerreira, que não pôde fazer um mísero desabafo kkkk a ter que deixar pra lá o sermão chato dela enfim rs

    1. Michele Kaiser

      Obrigada pelo apoio, Samantha! Um beijo!

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