Bateram no meu filho: e agora?

Qual é a reação mais normal, de sangue quente, que uma mãe tem quando escuta do filho: “- Mãe, o fulano me bateu”? Não sei vocês, mas eu fico tão zangada de saber que bateram no meu filho que eu poderia esganar alguém! Tenho vontade de ir lá tirar satisfações com a criança e com a mãe da criança. Afinal, onde já se viu bater no meu filho?? Mas, com toda a calma do mundo, eu pergunto o que aconteceu e busco entender se meu filho não começou a treta antes e se não foi ele a bater primeiro.

Sabem por que minha reação é esta? Porque eu sei o que é ter três filhos da mesma idade. Eu sei muito bem como brigam de quererem arrancar os cabelos um do outro e, no instante seguinte, estão rindo felizes da vida, como melhores amigos. Hoje, entre os três, eu sempre pergunto o que aconteceu e sugiro que se resolvam entre eles.

Vamos imaginar que eu tivesse apenas um filho. Se meu filho chegasse em casa e me dissesse que um coleguinha bateu nele, eu ia perguntar o que houve. Eu ia dizer para o meu filho que ele não deve começar as brigas e nem bater ou brigar com ninguém. Mas ia acabar dizendo que, se batessem nele, ele deveria se defender. Afinal, meu filho não pode virar o saco de pancadas da turma, né? Não pode ser o fraquinho, molenga, e aceitar a provocação dos outros. Se te baterem, bate de volta! Se te morderem, morda de volta! Reaja, menino!

Só que eu não tenho só um filho. Eu tenho três da mesma idade. No momento que eu incentivar um dos meninos a revidar um tapa, chute, soco ou mordida, eles vão começar a achar que é assim que se resolvem as coisas e, desta maneira, vão começar a fazer isso em casa. Imaginem que Matheus bata em Murilo. E – ao invés de ele vir me contar e eu ir lá apaziguar as coisas – ele resolva bater de volta. Se eu disser para eles que eles têm que revidar para se defender, eles vão começar a ser muito mais violentos em casa um com o outro e entender que é assim que as coisas têm que ser. E assim eles iam começar a bater, morder, chutar, brigar com os colegas na escola e eu ia ser chamada diversas vezes.

Revidando com violência

Houve uma fase chata das mordidas aqui em casa. Eu ficava muito triste porque eu era a mãe não só da vítima como do agressor. Ao mesmo tempo que eu ficava brava com aquele que tinha mordido, protegendo o que tinha sido mordido, eu sentia culpa em pensar que eles estavam se mordendo. Eu consigo entender a raiva das mães que vêem que seu filho foi mordido na escola. Mas eu também entendo a culpa e a vergonha que sente a mãe daquele que mordeu.

Na escola, meus filhos estão em turmas separadas. Um dos motivos desta escolha é exatamente para que não formem uma gangue e não deixem de interagir com os coleguinhas. No recreio, Murilo e Marcelo se encontram todos os dias (Matheus faz intervalo em outro horário). As monitoras já me contaram que eles ficam juntos no recreio e que o Murilo sempre protege o Marcelo. A gente percebe que, em casa, na garagem do prédio ou caminhando na rua, Murilo tem este instinto protetor com o irmão. E o Marcelo parece depender um pouco disto.

Bateram no meu filho: e agora?

Já faz algum tempo que o Marcelo comenta que tem um menino na sala que briga com ele. Já conversei com a professora e as monitoras e todas me disseram que nunca viram o menino de fato brigar com ele. Mas recentemente ele contou que um outro coleguinha começou a chamar ele de “magrinho” (“maguinho”, como ele diz). Fiquei chateada com isso porque ele estava chateado. Pedi que contasse à professora.

bateram no meu filho

um abraço é sempre melhor

Recentemente a turma do Murilo recebeu um colega novo. O menino está se enturmando e o Murilo sempre falava nele em casa, dizendo que era um amigo novo. Mas nos últimos dias ele disse que o menino andava brigando com ele. Fomos a um aniversário e eu vi o menino brigar com ele. Aí meu sangue esquentou. Virei aquela mãe do início do texto. Tive uma vontade de ir tirar satisfações com a mãe dele. Tive vontade de dizer para o Murilo bater de volta e deixar de ser tonto.

Mas preferi conversar. Chamei o menino e muito civilizadamente (a adulta sou eu, né) perguntei se ele tinha batido no Murilo. Ele disse que sim e eu perguntei porquê. Ele não soube responder. Aí eu disse que o Murilo gostava muito dele e que eles podiam brincar juntos ao invés de brigar. Que era feio brigar. Se fiz certo ou não, não sei. Se vai adiantar ou não, também não sei. Mas meu instinto de mãe apaziguadora de brigas em casa me disse que essa era a coisa mais acertada a fazer. Espero estar certa.

Então não, eu não posso incentivar meus filhos a se defenderem violentamente na escola. Isto só vai fazer com que repitam comportamentos inadequados em casa. Se eu incentivar que revidem, eles vão revidar em casa também. A alternativa é conversar com os adultos, chamar a professora ou monitora para desencorajar a violência. Espero, mais uma vez, estar certa. Até mais!

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