Quando é difícil criar vínculo com o filho

Sabe aquele lindo comercial da marca de produtos de bebê que mostra um recém-nascido fofinho ao lado de uma mamãe superfeliz? Bem, desculpe te dizer, mas aquilo não é sempre real. Desculpa te dizer, mas aquele vínculo entre mamãe e bebê e o amor incondicional não são instantâneos. Desculpe te dizer, mas eles são sentimentos construídos ao longo de um certo tempo de convivência até que as duas pessoas (a mãe e o nenê) se conheçam. Criar vínculo com o filho é um trabalho árduo e demorado.

Nos momentos pós-parto, durante o puerpério, a gente está em uma mudança hormonal tão grande que dá uma tristeza, uma melancolia, coisas muito normais mas que nos causam estranheza, mal-estar e culpa. Aos poucos vamos nos sentindo melhores, vamos nos apaixonando pelo bebê que nasceu e ele começa a fazer parte da nossa vida. O amor vai crescendo aos poucos, com o tempo. Com minha filha Mônica foi assim e imaginei que também seria com os trigêmeos.

Por causa do blog e das redes sociais, tenho muito contato com outras mães de trigêmeos. Tive uma conversa com uma mamãe que me fez reviver meus sentimentos do puerpério depois do parto dos meninos: como é difícil criar vínculo com o filho naquele momento! Ela me relatou como estava tendo dificuldade em criar vínculo especialmente com um dos filhos trigêmeos. Devido ao fato de ter sempre muita gente a ajudando com as crianças, ela não estava se sentindo próxima daquele.

A difícil tarefa de criar vínculo com o filho

Quando a gente tem filhos múltiplos, os primeiros meses dos bebês são ainda mais difíceis. São muitos recém-nascidos e, na maioria das vezes, eles são prematuros. Se é difícil iniciar a amamentação com um bebê, se são difíceis as primeiras noites, se é difícil criar uma rotina com um bebê, imagine com múltiplos. Por isso, aceitamos ajuda de nossa família e contratamos babás.

No meu caso, contratei uma babá (que está conosco até hoje) e tive ajuda dos meus pais. Embora precisemos dessa ajuda para conseguirmos manter nossa sanidade mental, o excesso de pessoas envolvidas nos cuidados com os bebês acaba dificultando a criação desse vínculo mamãe-bebê. Se já é difícil termos que dividir nossa atenção de mãe com diversos bebês ao mesmo tempo, imagine como fica a construção desse vínculo quando diversas pessoas estão também dando carinho, amor e atenção a nossos bebês.

E como podemos ficar sem essa ajuda nos primeiros meses? É praticamente impossível. Não podemos nos dar ao luxo de dizer não, principalmente quando se trata de mães de primeira viagem. Existem mães que infelizmente não podem contar com essa ajuda de familiares e babás, mas se elas pudessem também se cercariam de ajuda porque gente, sério, há momentos que é insano!

Mas aí acabamos chegando naquele ponto lá do início do texto. O vínculo e o amor incondicional não nascem de uma hora para outra. Eles precisam ser nutridos. E como fazer para dar a atenção necessária a cada um, para criar vínculo com o filho, tendo tanta gente em casa cuidando? E como ficar sem essa ajuda? Parece incoerente, mas a gente precisa passar trabalho, chorar, ficar exausta para criar vínculo com o filho. A gente precisa estar junto com ele nos momentos ruins para construir essa forte ligação mãe e filho.

criar vínculo com o filho

Criar vínculo com o filho: a figura da mãe

Eu conhecia o amor incondicional porque passei por tudo isso com a Mônica e valeu a pena. Com os meninos demorou muito mais porque a casa vivia cheia e não era eu que fazia todas as atividades com eles. Dar banho, secar, arrumar, dar comida, colocar dormir… Tudo isso era feito por mim, minha mãe e a babá, todas juntas. Meu marido fazia a parte dele quando estava em casa e ainda tinha meu pai ajudando muito nessas tarefas. Então a figura de mãe na casa estava muito dividida. E eu ainda preferia fazer as coisas com a Mônica porque ela só tinha dois anos e eu não queria que ela sentisse ciúmes dos trigêmeos.

Com tudo isso, o vínculo demorou a ser criado. Quando os meninos tinham 1 ano e 1 mês, meus pais voltaram a morar na cidade deles e a babá parou de vir durante a noite. Foi aí que comecei a ficar mais sozinha com eles. Foi nesse período que eu cuidava deles de dia e cuidava de noite que começamos a nos aproximar mais. Foi nessa época que eu e meu marido começamos realmente a ter uma ligação forte com eles. Foi quando tivemos mais trabalho que nos conectamos fortemente com eles.

Em nenhum momento foi ruim ter meus pais aqui comigo, de maneira alguma. Nunca serei capaz de agradecer o suficiente tudo que eles fizeram por nós naquele que foi o momento mais difícil e desafiador de nossas vidas. Mas é muito bom podermos dar conta de nossos filhos sozinhos. É muito bom sermos os pais deles de verdade e saber que eles nos vêem desempenhando esse papel. É muito bom não precisar mais tanto de ajuda externa. E nada vale mais a pena do que criar vínculo com o filho!

Até mais!

5 comentários

  1. Avatar
    Patricia Almeida

    Você traduziu tudo que eu sinto até hoje, Michele! As vezes mesmo com os gêmeos já com 19 meses ainda acho que estou devendo um pouco nessa questão de vinculo porque não consigo dar tanto colo pros dois e faço dormir no berço… nós que temos múltiplos e um mais velho, sabemos como é difícil momentos de exclusividade com um dos filhos…

    1. Michele Kaiser

      E como sabemos! É um trabalho árduo!! Um beijo!

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