Era uma sexta-feira. Naquele dia, havia dormido mal por preocupações com meu marido, que anda com alguns pequenos problemas no trabalho. De manhã, durante meu trabalho, outra pequena preocupação com uma de minhas alunas. Ao meio-dia, um aborrecimento de tamanho médio em minha casa.
À tarde, o trabalho foi bastante divertido, mas um tanto desgastante. Trabalhei das 13h30 às 19h, sem nenhum intervalo, sem tempo de fazer um lanche, ainda com as preocupações da noite e da manhã na cabeça. Cheguei em casa às 19h10, com pressa. Rapidamente me arrumei e questionei o marido se ele preferia que eu ficasse em casa ao invés de ir a um jantar previamente combinado com as mães da turma de minha filha Mônica. Eu ainda estava preocupada com ele, além das constantes preocupações com nossos filhos (o que vão jantar, levar de lanche, fizeram os temas, precisam tomar banho, passar o creme para proteger contra a dermatite atópica, nariz escorrendo, será que vão ficar resfriados,etc.). Meu marido me encorajou a ir com o argumento de que eu deveria me divertir um pouco.
De fato, foram momentos agradáveis. As mães são muito queridas, engraçadas, boas cozinheiras, ótima companhia no salão de festas do prédio de uma delas. Por uma hora e meia, relaxei, dei risada, comi, tomei uma taça de vinho branco delicioso… Mas, cerca de 21h30, minha visão começou a embaçar. Olhei para meu celular e o mundo começou a rodar. Pensei que eu ia vomitar, mas a verdade é que eu não estava enjoada, estava somente tonta. Decidi ir ao banheiro para tentar jogar uma água no rosto. Por sorte, não larguei o celular.
Chegando lá, entrei em um dos cubículos e sentei no vaso. Comecei a ficar muito nervosa e a ter taquicardia. Resolvi mandar uma mensagem para meu marido. Mas, se eu realmente passasse mal, de que adiantava avisá-lo? Deveria chamar uma das mães que estavam no salão de festas. Com a visão turva, olhei para meu celular e tentei selecionar o grupo de whatsapp que haviam criado para a janta. Tentei me levantar, destranquei a porta do banheiro e olhei para o chão, que me pareceu muito atraente. Senti uma horrível falta de ar e caí ao chão. Acho que desmaiei, não tenho certeza. Do chão, peguei meu celular e mandei uma mensagem de socorro para as mães, dizendo onde eu estava. Depois o mundo se foi.
Acordei ouvindo vozes longe, pessoas em volta de mim. Tentaram me acordar, molharam meu rosto, deram batidinhas. Lembro que só queria ficar no chão. De repente, as vozes delas se distanciaram novamente e tudo se apagou de novo. Alguns instantes depois, novamente eu ouvia as vozes delas longe e uma horrível falta de ar. Com dificuldade para respirar, eu só conseguia chorar abraçada a uma delas. Meu corpo estava mole, sem forças para me levantar dali.
Alguns instantes depois eu estava sendo atendida por dois socorristas do SAMU, que tinham sido chamados pelas mães. Ouvia eles falando comigo, me chamando, medindo minha pressão, me examinando. Mas não conseguia falar com eles direito, parecia uma ameba. Resolveram me colocar na ambulância e me levar para um hospital da cidade.
Dentro da ambulância, eu fui aos poucos voltando a mim, retomando a consciência. Já no hospital, meu marido apareceu assustado, coitado. Me contou que nem 5 minutos depois de eu ter mandado a mensagem à ele, ele recebeu a ligação de uma das mães dizendo que haviam chamado uma ambulância para me atender pois eu tinha desmaiado e estava mal. Teve que chamar meu sogro, que mora em nosso prédio, para ficar com as crianças e poder ir ver o que estava acontecendo comigo.
Crise de ansiedade
O fato é que, segundo os médicos, tive uma crise de ansiedade causada por stress. As preocupações acumuladas nos últimos tempos fizeram com que meu corpo pedisse socorro. Foi um esgotamento físico e mental causado provavelmente por uma pequena gota d’água num copo já cheio. Um excesso de stress devido a uma exaustiva carga mental.
Sou mãe de quatro filhos. Tenho muitas preocupações diárias com eles, com meu marido, com a casa, com meu trabalho. São muitas tarefas, muitas janelinhas abertas de assuntos distintos que preciso resolver diariamente. Eu recebo através do blog e de nossas redes sociais diversas mensagens de gente que nos acompanha perguntando como é que dou conta de tanta coisa. A verdade é que não acho que dou conta, nunca acho que fiz tudo que eu deveria fazer (do jeito que eu gostaria de fazer).
Bem, saí do hospital com a recomendação de que deveria procurar um médico psiquiatra para acompanhar o meu caso. Me disseram que eu não preciso aguentar essa carga sozinha e que não é errado pedir ajuda quando estamos precisando. Eu concordo que minha carga mental está pesada. Concordo que preciso restruturar algumas coisas na minha vida e, principalmente, levar as coisas com mais calma e não me cobrar tanto para dar conta de tudo.
Estava em dúvida sobre abordar ou não este assunto aqui no blog, mas troquei ideia com algumas mães de múltiplos em um grupo que temos no whatsapp e fiquei sabendo que diversas dessas mães também já passaram por situações parecidas. Já tinha iniciado um texto sobre carga mental há alguns dias e desisti de escrevê-lo… Parece que estamos na era da ansiedade, da necessidade de dar conta de tudo, do medo de sermos julgados por qualquer coisa que façamos. Acho importante falar sobre esses assuntos aqui. Só o fato de desabafar já faz a gente se sentir mais leve, e se alguém que já passou pela mesma situação ler este texto, provavelmente sentirá que não está sozinha.
Desde o ocorrido, tenho evitado ficar sozinha ou muito longe de casa. Tenho sentido um pouco de nervosismo, e cada vez que eu conto esta história me parece que ela me volta à cabeça real ao ponto de me dar outra crise. Mas, decidi ainda não procurar ajuda medicamentosa. Hoje mesmo, tirei o dia de folga do trabalho para descansar um pouco. Claro que, de tantas coisas que tenho a fazer, precisei ir ao supermercado no dia da minha folga (risos). Mas creio que este é o caminho. Levar a vida mais levemente, aproveitar mais a companhia da minha família, fazer atividade física, e talvez começar uma terapia.
E se nada disso funcionar, nada que uma viagem à Paris a dois não resolva, né? Quem sabe a gente consiga fazer uma coisa legal assim em breve. Até mais!
Michele, não hesite em começar terapia e nem em procurar ajuda medicamentosa, uma mãe que se cuida deixa a família mais forte. Acabei de terminar tratamento medicamentoso para ansiedade foi apenas 6 meses e o medicamento não deu nenhum efeito colateral, melhorei em todos os aspectos da minha vida e agora estou pronta pra seguir sem ele. Esteja aberta a essa possibilidade para que não se agrave, beijos
Sou da opinião que precisamos mudar o que está causando o problema. Eu sei o que é e já estou trabalhando nisso! Um beijo e obrigada pela ajuda!
Oi, eu tive essa mesma crise a menos de 1 mês .
Sensação horrível , a cobrança da gente mesmo com as coisas é demais . Tudo tem q estar certo e eles não podem sofrer e ver o quão a gente corre pra que a comida esteja na mesa quentinha todos os dias , que as roupas estejam limpas e cheirosas e a casa limpa sempre .
Força e fé #tamojunto @ostrigemosdapriscillaefabiano
É muita coisa para dar conta, né? Tudo de bom para vocês!
Sou mãe de um casal de gêmeos de dois anos e estou fazendo terapia. É muito bom. Me sinto mais leve. Alguém que me ouve e me aconselha. Me ajuda a me reencontrar no meio de tantos papéis que exerço. Mãe,esposa,dona de casa, professora. Cheguei lá e ela me aconselhou a ir num psiquiatra TB. Mas estou tentando vencer com mudanças de hábitos. Força Michele. Te admiro muito e espero que consigas vencer. É uma luta diária, mas estamos juntas nesse barco… Hehehe
Muito obrigada pelo apoio, querida!
Eu estou em tratamento psiquiátrico a 3 meses!Desenvolvi Síndrome do pânico.Foi bem difícil admitir,e procurar ajuda!Mas fiz,pq não me reconhecia mais!Na consulta só chorei.A ansiedade estava me consumindo a 1 ano e meio!Mas agora não me consome mais!Recomendo psiquiatra e psicólogo.Não podemos carregar esse fardo sozinhas!Estou conseguindo seguir minha vida com a ajuda de Deus!
Concordo com você. Vamos vendo, se achar que preciso, farei isso. Um beijo!
Sei bem oq vc sentiu! Ano passado tb tive crises assim! No meu caso, precisei recorrer a medicação, pq minha ansiedade e estresse estavam tão altos q comecei a ficar depressiva!
Sinta -se abraçada! Tudo passa e isso TB vai passar! Obrigada por compartilhar sua história! ♥️
Obrigada por dividir sua experiência. Vai passar!
Minha querida, já passei por isso ainda quando não tinha meu filho, tive várias crises de ansiedade, fiz terapia por 7 meses e foi minha melhor decisão, nem precisei tomar remédios ansiolíticos, mas cada pessoa é um caso, se precisar tomar não exite,! Eles servem para nos dar um up, e depois a terapia faz a continuação. Pensa que tudo passa, e logo vc aprende a controlar a crise , se ela insistir em voltar. Beijos
Muito obrigada pelo seu relato e apoio. <3