Aquele carrinho…

Vendi o último carrinho de bebê que faltava. Ou sobrava, porque aqui em casa ninguém mais usa carrinhos. Sim, meus bebês cresceram. Ontem se arrumaram, pegaram cada um um saquinho e saíram para levar o lixo com o papai. Finalmente chegou aquele momento que eu tanto esperava: não precisamos mais depender de terceiros para dar conta dos nossos filhos. Conseguimos tranquilamente (tá, com uma pequena dose de cansaço) cuidar de quatro crianças que são nossas, que saíram de meu ventre, que são nossa inteira responsabilidade.

post carrinho de bebê

O carrinho era o último de quatro carrinhos que já tivemos. Pois bem, vendi o dito carrinho e, como tantas coisas na minha vida recentemente, bateu aquele sentimento que depois que a gente vira mãe não sabe nem explicar. Me deu uma satisfação enorme em conseguir uns trocados pelo meu produto usado, mas me deu uma tristeza no coração ao me lembrar do quanto eu precisei daquele carrinho, do quanto ele foi útil para mim com a Mônica pequena e depois com os trigêmeos. Nossa, o carrinho era tão novo e já tinha tanta história!

Foi comprado há cinco anos, o dito carrinho de bebê. Há cinco anos, eu era uma pessoa que eu nem reconheço agora. Há momentos que eu sinto saudades daquela pessoa. Livre, desimpedida, que ia onde queria sem se preocupar com nada. Hoje, me identifico muito com aquela musiquinha dos seis patinhos, cujo vídeo na internet mostra uma pata seguida por diversos patinhos. Com certeza eu já não posso mais sair livre e desimpedida para onde eu quiser porque o meu “nada” virou “tudo”.

O carrinho foi vendido para um casal que tem um filho que nasceu há uma semana. Ensinei o pai, que veio buscar o carrinho, a abrir, fechar, trocar as rodinhas de lado, encaixar o bebê conforto… Enquanto eu mostrava todas as maravilhas que esse carrinho de bebê fazia, me emocionava no meu interior lembrando o quanto eu, ali com um bebê de uma semana de vida, não sabia uma vírgula sobre o que é a maternidade. O quanto eu ainda ia aprender era um universo perto do que eu pensava que sabia naquele momento. Olhei aquele pai, preocupado ainda com coisas tão sem importância. Mal sabem ele e a esposa o quanto ainda vão amar aquele pequeno bebê de uma semana. Mal sabem o quanto aquele bebê irá mudar suas vidas.

O filho muda a vida da gente. Mas muda para melhor. Ser mãe é um sentimento muito incoerente. A gente sofre um bocado, mas parece que quanto mais a gente se preocupa, sofre, não dorme e tem trabalho com a rotina, mais a gente ama aquela pequena criatura. Quanto mais difíceis forem aqueles primeiros meses com o bebê, mais a gente constrói a relação de amor com ele. A mãe é meio masoquista, quanto mais sofre, mais ama. Eu sofri bastante com quatro pequenos e o meu sentimento por eles é tão forte que chega a doer. Eu não quis ter diversas babás e ajudantes porque eu queria passar por tudo que passei. Eu queria usar aquele momento de trabalho, preocupação e “sofrimento” para fundamentar o meu amor. Viu, não disse que mãe é incoerente?

Enfim, resumindo, vendi o carrinho. Ao invés de vomitar todas essas palavras aos papais (futuros apaixonados por seu filho), preferi limitar meu diálogo às funções do objeto da venda. Estendi um pouco a quais os melhores lugares para ir na emergência se o bebê fica doente, qual o melhor pediatra aqui na cidade, etc. Me chamem de louca e exagerada, mas aquele carrinho, por mais que estivesse só atrapalhando e roubando espaço aqui em casa, vai me fazer falta. A passagem do tempo é uma coisa que me emociona muito. E, hoje, o carrinho representa sentimentos de perda e saudades que eu nem conseguiria explicar.

carrinho de bebê

Vá em paz, carrinho! Faça mais um casal feliz. Seja útil, construa lembranças. Faça parte dos anos felizes da infância de mais uma criança. Beijos, de sua velha dona…

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