Muitas vezes já ouvi a frase “queria ter 25 anos com minha experiência de 45”. Lembro de ter ouvido, pela primeira vez, quando eu tinha 15 anos. Saiu dos lábios de uma tia querida, que eu achava linda e segura de si. Lembro de ter achado esta frase incrível, cheia de significado e sabedoria. Afinal, envelhecer o corpo é ruim, mas o lado bom de os anos passarem é a experiência que eles nos trazem.
Hoje, perto dos mesmos 45, não acho a frase assim tão importante. Tão inteligente. Tão significante. Eu queria, sim, ter meus 25 anos de volta. Mas do que eu mais tenho saudade, mais do que do vigor e beleza da juventude, é da minha coragem. Nada me impedia de viver o que eu achava que poderia me permitir. Meus sonhos eram exuberantes, minhas perspectivas, inúmeras. Hoje, em tudo que ponho um pouco de energia de pensamento, pesa a ansiedade. Não consigo mais pensar no futuro e sonhar livremente sem um tanto de ansiedade na mochila. Não consigo sequer planejar férias sem sofrer com um sem fim de problemas que crio na minha cabeça, pensando que podem acontecer.
Por que será que, quando envelhecemos, nos tornamos tão realistas, tão cuidadosos, tão boicotadores de nossa própria alegria? Não consigo mais curtir pequenas alegrias sem pensar em perversas consequências. E nem estou falando de coisas perigosas ou ilegais. Me refiro a quaisquer pequenos planejamentos. Um pequeno passeio de 30 minutos me faz gelar, ponderando se vale a pena correr o risco de talvez dirigir com chuva, talvez pegar engarrafamento, cair a noite. E se eu me engasgar com a comida?
A maturidade me trouxe ansiedade
Uma conhecida me contou que está grávida do primeiro filho aos 41 anos. Conversamos sobre a gravidez ter mais riscos após os 40 e sobre a escolha dela em viver o momento com alegria e positividade, sem pesquisar sobre riscos, simplesmente, se deixando levar.

Só ansiedade e preocupação
Me lembrei da minha gestação dos trigêmeos, há mais de 12 anos. Eu tinha 31 e descobri que esperava três bebês, já sendo mãe de uma criança de 1 ano e meio. Além dos riscos da gravidez em si, ainda ouvi do meu médico que existiam alguns sinais de que dois dos trigêmeos poderiam estar dividindo artérias importantes através da placenta. Isso se chama transfusão feto-fetal. Tal médico me disse para não contar a muitas pessoas sobre a gestação e me preparar para talvez ter que fazer uma cirurgia intrauterina, se o caso se confirmasse. Lembro de ter respirado fundo e decidido não sofrer por antecedência. Um mês depois, a síndrome acabou não se confirmando e eu pensei “viu, que bom que minha atitude me fez manter-me calma e relaxada”. Hoje? Não me vejo capaz de ser esta pessoa.
Se engravidasse hoje, iria viver uma pilha de nervos, sofrendo a cada minuto, perguntando à IA sobre cada respiro meu. Talvez seja o excesso de informação e o uso em excesso do celular que façam a gente ter conhecimento de tantos problemas e mascarem casos raros como casos corriqueiros. Talvez seja a maturidade, que ao invés de me trazer paz através da experiência, me trouxe mais e mais preocupações. Ou talvez seja o simples fato de eu amar cada vez mais meus filhos e me preocupar a cada dia mais com eles que me faça estar em constante estresse pelo bem-estar deles. Mas o fato é que, hoje, sou uma pessoa muito mais preocupada com coisas corriqueiras. Não atravesso uma rua sem olhar um milhão de vezes para cada lado. Afinal, tenho quatro filhos que ainda precisam de mim. Não posso ter uma dor na unha que acho que é uma doença grave. Não consigo olhar para o céu se armando em tempestade sem pensar que quero todos em casa antes de começar a chover. Será que isso tudo é só ansiedade?